Habitação da Amelia

Sorri. Ele era mesmo um querido. Pelo menos agora, estava a ser. Levantei-me, limpei a cara com as mãos e aproximei-me dele, pegando no casaco para o vestir. - Obrigada. - murmurei, de costas para ele.

-Fico a tua espera lá em baixo. - Beijei-lhe a testa e saí, suspirando. Desci as escadas e peguei nas minhas coisas, ligando para casa só para confirmar que estava tudo bem.

Mal ele saiu, olhei-me ao espelho de alto a baixo. Pus o cabelo para trás das orelhas, e limpei mais uma vez os olhos. Isto era suposto ser uma espécie de encontro? É que eu não estava pronta para isso. De qualquer das maneiras, não me podia deixar vencer outra vez esta noite. Mexi ligeiramente a perna direita e senti uma sensação estranha entre as duas. Não tinha perdido a virgindade, isso era certo. Mas só aqueles toques tinham me deixado com uma ligeira impressão lá em baixo. Penteei só mais uma vez o cabelo com os dedos e desci, sorrindo para ele quando o olhei nas escadas. Espreitei para dentro da mala, verificando ter comprimidos em casa de emergência, e cheguei finalmente lá a baixo. - Vamos? 

Enquanto esperava por ela, perguntei-me o porque de ainda estar aqui. Em parte porque me parecia compreende-la e por outro lado, queria fugir um pouco do stress lá de casa. Acho que em certa parte me via nela, se é que isso fazia algum sentido.
-Vamos.  - Sorri e fomos para o meu carro.

Assim que entrei no seu carro e olhei para ele detalhadamente, prendi a respiração por segundos. Raios, porque é que eu tinha caído nesta? Outra vez? Não é que eu não quisesse ali estar, só que... que confusão! De qualquer das maneiras, não ia sair agora. Não ia fazer outro drama. Até porque estava ali bem. Sozinha. Com ele. No carro. Comecei a ter imagens pouco convenientes no carro. O carro era realmente uma boa... localização. Acordei para a vida quando senti os motores a ligarem-se e sorri forçadamente, ignorando aquilo que me passava pela cabeça.

Liguei os médios e lá fomos. Quando dei por nós, estavamos a andar sem destino. Parei o carro , olhando para ela.
-Estás mais calma?

Fui observando pela janela, calada, evitando olhar para ele. Quando senti o carro a parar olhei mais atentamente lá para fora, não só observando mas procurando algo que pudesse ser o destino. Desisti e olhei finalmente para ele, ao mesmo tempo que o ouvi falar para mim. Senti um arrepio - Sim, sim - menti, sorrindo falsamente. De certa forma, até estava. Mas o stress agora era outro.

Tirei o cinto e aproximei-me dela, olhando-a. Com o ataque que ela tivera a pouco, nao ia tentar muito dela. Alias, nem tinhamos feito nada de especial.
-Amelia , o que se passA?

Eu sou virgem, esse é o problema, amigo. respondi para dentro, enquanto por fora abanei a cabeça e sorri novamente, desta vez de uma forma mais realista - Nada, nada - respondi rapidamente - Obrigada por me teres aturado - continuei, mais baixinho, e fiquei a olhá-lo nos olhos, descendo devagar a visão para os lábios. God.

Sorri quando senti o seu olhar nos meus labios. Ri-me baixinho, aproximando-me.
- Também me aturaste. - Sorri e beijei-a rapidamente, nao dando tempo para ela responder. Tirei-lhe o cabelo do pescoço e dei-lhe beijos demorados ali mesmo.

Aceitei o beijo por um bocadinho mas, antes que fosse longe demais, afastei-me. Fiquei a olhar para ele, com um sorriso envergonhado, até que me virei finalmente para a frente, sem largar o sorriso. - Para onde vamos, afinal? - perguntei, continuando sem o fixar.

Sorri e encolhi os ombros.
-Para onde queres ir? Só dei a ideia de virmos dar uma volta para espaireceres. Mas podemos voltar se quiseres.
Entretanto o meu telefone tocou, era de casa. A minha irmã tinha ficado sozinha com os bébés, a empregada nvoa tinha fugido com o namorado.
-Sim, o mano vai já. - Desliguei, completamente furioso.
-Desculpa, vou ter de ir para casa, houve uma confusão. - Odiava ter de mostrar os problemas lá de casa. - Mas podes vir comigo, se quiseres. Só la estão os meus irmãos.

Fui interrompida por aquela notícia assustadora. Eu? Ir lá a casa? Não sabia o que era pior, ter de ir a casa dele com ele ou ficar em minha casa... sozinha. - Hmm, eu não sei... se calhar é melhor não... - respondi, ainda confusa.

- Tens de te decidir rápido, preciso mesmo de ir mas também não te quero deixar sozinha. Vens e de certeza que eles ainda não jantaram, encomendamos qualquer coisa, sim?- Olhei para ela. Eu não ia obriga-la a nada, muito menos nesta noite. Mas precisava mesmo de ir.

Olhei pela janela e decidi-me em dois segundos. Inspirei fundo. - Então vai para casa. De qualquer das maneiras já jantámos. - abri a porta e sorri-lhe - Eu vou a pé, é já ali ao fundo de qualquer das maneiras. Obrigada. - agradeci, enquanto saía do carro.

Encolhi os ombros.
-Se precisares de alguma coisa, liga. - Disse, vendo-a ja a andar. Suspirei e conduzi ate casa.

Sorri e acenei com a cabeça. Fechei finalmente a porta e nem olhei para trás quando ouvi o carro a ir embora. Fui caminhando, na direcção da minha casa. Não conhecia aquela rua, mas sabia que o carro não tinha feito curvas, por isso só podia ser sempre em frente. Fui andando, e filosofando. O tempo ia passando e nunca mais lá chegava. Bufei. As pernas começavam a doer-me, e eu não tinha muitas forças. Se calhar devia ter ido com ele. pensei para mim mesma.

Fui o mais rapido para casa, o mesmo ritual de sempre. Tive de os ir deitar e tratar deles o melhor. Eram duas da manha e finalmente fiquei livre, indo para  o quarto. Entretanto, verifiquei o telemovel , ela nao mandara nada. Decidi mandar mensagem no dia seguinte. Teimosa como era, ia passar a noite sozinha na casa dela.

Honestamente, os minutos a seguir pareceram horas. Das dores nas pernas, passaram para a cabeça, peito, tudo. Com as dores no corpo, vieram tonturas. Perdi toda a noção da realidade. Deixei de ouvir o que se passava ao meu lado, e comecei a ver dois passeios à minha frente, às vezes três. E não eram claros. As imagens vinham distorcidas e estranhamente onduladas - Ajuda - tentei gritar, mas só me saiu uma voz rouca e baixa da boca. Sem me aperceber como, caí no chão, de joelhos. E dum momento para o outro, recuperei todos os sentidos. Olhei em redor, desta vez com uma imagem perfeita da realidade - Oh, vida - lamentei-me, e levantei-me duma forma muito rápida, ainda amedrontada. Tnha recuperado todas as forças e corri até casa, preocupada. Não sei se alguém me viu ou não, mas se viu, tinha sido alguém completamente parvo, para não me ajudar.

A noite passou e ela nao disse nada. O dia seguinte passou a correr e decidi mandar-lhe mensagem a pergunntar como estava. Nesse dia, nao ia a as aulas. Era o que dava ter um pai bebedo e uma mãe toxicodependente, e alem disso nao se poderem mostrar assim durante o dia. Isto era terrivel.Achei estranho ela nao responder, msa ela tambem era bipolar.