Parque Infantil

Fomos com a Lo ao parque e fui durante o caminho a meter conversa com ela. Quando lá chegamos, ela foi logo brincar com uma amiga. Sentei-me num banco com Amelia.

Sentei-me num banco com ele, observando a irmã dele a brincar. Era tão gira. Sempre o imaginara filho único - Então, tens mais irmãos que eu desconheça? - perguntei, tentando fazer conversa.

Sorri e olhei-a.
-Tenho mais um irmão, mais novo do que ela. - Espreitei-a para ver se estava tudo bem. - Entao e tu? Tens irmaos?

Acenei com a cabeça - Somos 4 ao todo - respondi e liguei o meu telemóvel, para lhe mostrar a minha foto de fundo - era uma foto da família. Descuidei-me ao esquecer-me novamente que o mais provavel era ele não saber da doença, e a foto era eu numa cama de hospital com os meus irmãos à volta. Quando me lembrei disso apeteceu-me dar um soco em mim própria, mas em vez disso cruzei os dedos para que ele não perguntasse nada.

Fiquei intrigado com a fotografia. Nunca tinha visto ninguwem da familia. Olhei-a e pensei porque guardaria ela uma fotografia de familia enquanto ela estava hospitalizada, só se tivesse sido algo grave. Nao fazia mesmo ideia.
  Em vez disso, nao perguntei contra o meu instinto.
-És parecida com a tua mãe. - Sorri, comentando.

Acenei com a cabeça, concordando - Dizem que sim, mas acho que tenho mais o humor e os olhos do meu pai - continuei, olhando para a foto atentamente, provando a mim própria aquilo que dizia - A Lo também é igualzinha a ti. - mudei o olhar para a criança, animada, nos baloiços.

-Isso do humor não sei.-Ri-me e olhei-a. - És a primeira pessoa que diz isso. - Ri-me, olhando a Lo a brincar. - Todos dizem que nem ela nem o meu irmao sao parecidos comigo.

Sorri - Se calhar és adoptado - gozei, e ri-me. Olhei outra vez para as crianças a brincar no parque e relembrei-me de que não ia a nenhum parque infantil há que tempos. Mudei a expressão facial para séria e olhei para ele - Dá-me licença - pedi e caminhei até aos baloiços. Sentei-me num mas mantive-me estática, com algum medo.

Observei os movimentos dela e fui ter com ela, vendo-a parada nos baloiços.
-Queres que te empurre? -Ri-me.

Tirei-me do sério e olhei para ele - Acho que não - disse e ri-me, e comecei a tentar dar balanço. Honesta mesmo muito honestamente, só tinha andado de baloiço quando era mesmo muito pequena... isso significava nunca ter aprendido a baloiçar. Mas continuei a tentar, pondo-me o mais para trás possível e indo para frente. Não funcionava muito bem, mas não queria fazer figuras tristes.

Ela parecia envergonhada. Nao percebi bem porque mas estava curioso qunato a isso.
Fui por tras dela e segurei-lhe a cintura, com uma mao de cada lado, sentindo-a contrair-se um pouco.
- Eu empurro-te, a sério. - Sorri, mesmo sem ela me ver. Suavemente, comecei a empurra-la levemente.

Senti o meu corpo a arrepiar-se com a aproximação dele. Senti, também, a sua respiração na minha nuca, o que não me deixava mais confortável. No entanto, ao sentir o meu corpo a baloiçar, perdi todo o medo - Uauuu obrigada! - gritei, feliz, quando baloiçava não muito alto, nem muito baixo.

Ri-me e sorri com a sua felicidade. Parecia nunca ter andado num baloiço. Continuei a empurra-la levemente, vendo Lo a observar-nos e a rir. Parei-a subitamente, agarrando-a pela cintura.
- Queres que continue? - Estiquei a cabeça para olha-la, sorrindo. Ela de perto era ainda mais bonita.

Arrepiei-me novamente ao ser parada subitamente por ele. - Não, não é preciso, obrigada - disse, apressadamente, tentando ser simpática, mas talvez demasiado nervosa para tal. Levantei-me do baloiço e olhei em volta, com uma forte dor de cabeça repentina. - Merda - murmurei para mim própria e senti uma tontura a invadir-me o corpo. Estiquei o braço para me apoiar nalgum sítio e não cair.

Observei os movimentos dela e mandei Lo vir brincar para mais perto. Fui ter com ela, nao lhe tocando ela ainda pensava que estava a abusar.
-O que se passa? Sentes-te mal? - Tentei ajuda-la.

Fechei os olhos e respirei fundo. Abri novamente os olhos. A dor de cabeça era mais leve, bem como as tonturas. Olhei para ele e acenei a cabeça bruscamente, evitando que ele se preocupasse muito. - Já passou - disse baixinho, novamente para mim própria. Já estava habituada, mas não era isso que me fazia não me importar de acontecer este tipo de coisas. Retirei o braço do poste do baloiço onde estava e tentei dar um passo. Tentativa falhada. Perdi as forças e cai.

Assustei-me imenso e chamei uma ambulancia. Ela desmaiara do nada e nao sabia o que fazer. Peguei em Lo e fomos com Amelia para o hospital. Quando la chegou, levaram-na lá para dentro e tivemos de ficar ca fora a espera..Estava a sentir-me terrivelmente culpado, nem sei porque.

Não sei quanto tempo passei inconsciente. Primeiro, comecei a ouvir sons no exterior, depois abri ligeiramente os olhos, e por entre as pestanas, vi luzes. Finalmente, ganhei coragem para abrir os olhos. Olhei em redor. De volta ao hospital. Olhei para o copo ao meu lado e bebi um gole. Só passado um bocadinho é que percebi o que aconteceu - Merda, merda - repeti, com uma voz rouca. - Alguém - tentei gritar, mas estava com falta de voz. Uma enfermeira chegou a correr e tentou tomar conta de mim, mas eu afugentei-a e só gritei - Chame o doutor Philipps, o doutor Philipps! - até ela finalmente o fazer. Ele chegou um bocado depois. Sentou-se ao meu lado. - Já é costume - disse-lhe quando ele me olhou seriamente.
-Ainda assim - comentou, continuando a olhar-me com aquele tom acusador. Bufei. - Tens a certeza que...
-Tenho! - exclamei, interrompendo. Já estava mais que habituada àquele discurso dele: "tens a certeza que não queres entrar no ensaio? ia ajudar-te imenso, e podia permitir-te ter uma vida, blablabla." Das primeiras vezes, ainda me tinha deixado a pensar, mas agora já estava mais que habituada. O ensaio não me dava garantias de sobrevivência, e dava garantias do quão doloroso e invasivo podia ser, e os efeitos secundários eram sobretudo negativos. Já tinha chegado à ideia que ia morrer, porquê ter esperanças de algo que só me podia tirar mais tempo de vida?
-Vais magoar o teu namorado. - ele continuou.
-Não tenho namorado! - resmunguei, chateada.
-Então quem é o menino que está lá fora? - perguntou, mudando um pouco a sua expressão. Revirei os olhos. Luke. Bolas. 
-Não lhe disseste nada, CERTO?! - perguntei, tão preocupada como irritada.
-Eu não. Mas tu devias dizer. - avisou-me e levantou-se, para pegar no dossiê de fichas na minha mesa de cabeceira. Eram, provavelmente, as minhas fichas clínicas.
-Ele não é meu namorado. - voltei a reclamar, e tentei levantar-me para sair dali, mas só acabei a sentir uma intensa dor de cabeça e a tossir. O dr. voltou a ajudar-me a deitar. - Tenho de ir embora - pedi, já com uma voz de pânico. - Por favor... - implorei, e fiz força para não começar a chorar.

Fiquei mesmo assustado. Ela perdera os sentidos do nada, talvez ela nao pudesse fazer esforços fisicos. Mas ela nao fizera, só a empurrara no baloiço. Lo odiava hospitais mas como tinha gostado de Amelia, estava bastante preocupada. Sentada no meu colo, perguntava-me quando ela iria ficar boa e poder sair. Estava mesmo a sentir-me culpado. Com a Lo ao colo, andei pelos corredores à espera de ver o medico dela ou até ver o quarto dela, esta espera nao dava com nada.

O médico não se mexeu, deixou-se ficar sentado a observar-me a lamentar. Já eram demasiados anos com ele, ele já sabia perfeitamente que a tortura do silêncio era a pior tortura. Só passado um bocado, quando as lágrimas me sairam todas dos olhos e as lamurias todas da boca, é que ele se levantou e disse:
-Vou buscar-te as roupas - acenei com a cabeça e gemi baixinho, tentando dizer "ok". Finalmente, ele deixou-mas ao pé de mim, em cima da cama, e deu-me um beijo na testa - Espero não ter de te rever tão cedo - disse antes de abandonar de vez o quarto. Ainda esperei uns minutos antes de me mexer e vestir a roupa que tinha antes de vir para ali. Vesti a blusa branca e quando percebi que me tinha de levantar para vestir as calças de ganga, bufei. Virei-me secamente e assim o fiz. Quando já estava completamente vestida e calçada, dirigi-me à casa-de-banho do quarto e prendi o cabelo, com a oleosidade de quem já não o lava há dois dias. Finalmente, saí do quarto, fazendo sinal a uma enfermeira. Os meus únicos pensamentos eram "será que ele ainda está à minha espera?", "o que será que lhe disseram?", "o que é que eu lhe vou dizer?" e "a minha família também cá estará?". As perguntas foram todas esclarecidas quando cheguei à sala de espera e estava lá só Luke e Lo.

Suspirei de alivio quando a vi e Lo quis ir logo a correr, enchendo-a de perguntas. Olhei-a de alto a baixo.
-O que aconteceu? Ninguem nos dizia nada . Fiquei preocupado.

Abracei Lo, que correu até mim, e peguei nela ao colo. Dei-lhe um beijo e voltei a pousá-la no chão. Enquanto isso, pensei rapidamente numa mentira fácil e útil - Comi pouco esta manhã, eles acham que deve ter sido isso. - expliquei, aproximando-me deles.

Olhei-a nos olhos, pousando a mao no seu ombro.
-Estas mesmo melhor?  - A rapariga ainda tinha vindo parar ao hospital por minha causa. - Queres ir comer algo agora? Agora so te largamos quando estiveres mesmo bem.

Apressei-me a recusar - Eles alimentaram-me, e eu não vou tirar-vos mais tempo - esclareci, e sorri - Mas obrigada. Espero que não tenhas uma namorada muito ciumenta - brinquei. Não era bem uma brincadeira, esperava mesmo. O que menos me faltava era uma gaja ciumenta vir falar comigo porque o namorado andava a perder tempo comigo. E já tinham vindo outras por motivos mais pequenos.